Após o fim da segunda temporada de The Last of Us, eu e talvez mais pessoas que jogaram o jogo ficamos com uma estranha sensação de que a série não conseguiu representar tudo aquilo que sentimos quando acompanhamos a jornada de Ellie pela primeira vez. Antes de mais nada, deixo aqui claro neste post que eu entendo que a série é uma “adaptação” e que ela não será 100% igual ao jogo, já que é uma mídia diferente e é certamente voltada para atrair um público muito maior do que apenas aqueles que jogaram TLoU: Parte II.
Mas o sentimento de vazio que ficou ao final da série se deu por conta da segunda temporada que não soube adaptar a personagem principal da maneira correta. Ellie era a personagem que deveria levar a história adiante, mas pareceu perdida e por muitas vezes inconsequente, com atitudes sem sentido e que despertaram uma certa irritação por parte do público. A protagonista certamente não convenceu os espectadores, que esperavam algo bem diferente do que vimos na tela.
[SPOILER ALERT]
Se pegarmos a Ellie da primeira temporada, vemos que ela era apenas uma menina ingênua que ria de piadas bobas, mas que quando Joel precisava, era astuta o suficiente para ajudá-lo. Às vezes roubava até a cena, com vislumbres do verdadeiro papel que ela teria depois no decorrer da história. O fato de Bella Ramsey ter interpretado tão bem a personagem na primeira temporada, fez com que as críticas sobre sua aparência e escolha para o papel fossem dissipadas ao final da temporada.
O erro da segunda temporada foi justamente manter a mesma essência da personagem na primeira temporada, mesmo depois de um intervalo de cinco anos entre as temporadas 1 e 2. Ellie não é mais aquela adolescente de 14 anos que conhecemos, mas sim uma pessoa já adulta que agora lida com problemas maiores. A morte de Joel foi ainda mais determinante para que a personagem no jogo perdesse o brilho que tinha e se transformasse em algo totalmente diferente. E isso a série não conseguiu expressar da forma que deveria.
Não culpo a Bella Ramsey, já que me parece ser mais um erro de direção e principalmente do roteiro, que insiste em trocar a melancolia da personagem do jogo por rebeldia. A Ellie da série não parece ser a mesma pessoa que conhecemos em TLoU: Parte II e isso é expressado em cenas onde a personagem age com tom de sobriedade no jogo, mas que na série mostram uma Ellie que fala tudo o que vem na cabeça e não pensa nas consequências dos seus atos. Isso fez até com que o prestígio que Bella conseguiu com a personagem fosse perdido nessa segunda temporada.
A cena onde Dina conta que está grávida talvez seja a mais lembrada pelos fãs por conta da reação da Ellie, que foi muito diferente da do jogo. Mas, o momento na minha opinião que mais representa essa mudança na personagem é a conversa na varanda. A Ellie chamando o Joel de “egoísta” e dando lição de moral nele por ter salvo ela em Salt Lake me quebrou tanto, já que mostra um certo descaso com o material original que tanto amamos, uma vez que a série tenta de alguma forma diminuir o heroísmo da escolha do Joel. O que seria uma reconciliação entre os dois, acabou virando um pedido de desculpas “forçado” mostrando quem na verdade estava com a razão.
E sim, eu sei que o Neil Druckmann, o criador de The Last of Us, tem voz ativa na série e todas as mudanças feitas ter participação dele. Mas ao ver, essa vontade de Druckmann de querer “melhorar” ainda mais a história faz a série perder um pouco a essência daquilo que ele construiu tão bem nos jogos. Não queremos uma Ellie que esteja mais preocupada com o seu namoro com a Dina do que com a sua vingança pela morte do Joel. Ficou parecendo que as duas estavam passeando por Seattle e que o verdadeiro motivo delas terem ido para lá não fosse importante.
Parece que a série realmente queria diferenciar a Ellie dela com a do jogo, já que em vários momentos a personagem aparentava ser mais rebelde e independente que a original, como se essa imposição dela fosse convencer o espectador sobre o quão durona ela é na série. No fim, foi apenas uma ilusão, já que na maioria das cenas de ação a Ellie acabava sendo salva por alguém e dificilmente resolvia as coisas sozinha. Inclusive, coitado do Jesse.
Resumindo, acho que a série tem um baita potencial, principalmente pelo o que vem depois mais pra frente no jogo. E não, eu não acho que a culpa da Ellie ser ruim na série seja por causa da atriz. Acho que se os produtores de The Last of Us entenderem que a série precisa ser justamente o que o jogo foi, não tem como eles errarem mais. A história é boa, a personagem é sensacional, uma das maiores de todos os tempos. O arco dela precisa ser contado direito e vou torcer muito para as pessoas que não jogaram o jogo e que só assistem a série terem no final a mesma imagem que tenho da Ellie.
